Rodrigo Oliveira
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Como atenção e autogestão de crianças podem influenciar suas tomadas de decisões na vida adulta

O comportamento humano é muito complexo e é resultado de uma variedade de fatores. Um comportamento específico, pode ser definido a partir de fatores genéticos (dependendo da expressividade ou não de um gene responsável por um comportamento inato), de fatores ambientais (relacionado com aprendizagem ao longo da vida) ou fatores relacionados a ambos (como é o caso da epigenética, onde fatores ambientais influenciam fenótipos do comportamento). Um exemplo disso, é a influência negativa de ambientes privados de estímulos positivos cognitivos, como uma ausência de base educacional durante a infância, por exemplo, que geram alterações cerebrais estruturais e funcionais durante todo o desenvolvimento do indivíduo. Sabendo dessa grande importância das influências ambientais na formação cognitiva comportamental de um indivíduo, é imprescindível desenvolvermos ao máximo durante a sua infância a capacidade de lidar com esses estímulos de forma independente e autocentrada.



A poda sináptica (imagem abaixo) é um fenômeno neurofisiológico natural que ocorre entre a primeira infância e se estende até a vida adulta. Aos 12 meses o cérebro do bebê chega a possuir o dobro de sinapses do cérebro adulto para o mesmo número de neurônios. É entre 2 a 3 anos que ocorre o pico da poda sináptica na fase da infância, onde cérebro elimina sinapses extras que não são mais necessárias, ou seja, é uma fase intimamente modulada pelos estímulos externos, onde a criança começa a desenvolver seus aspectos cognitivos de forma focal de acordo com sua vivência social e cultural. Além disso, esse maior número de sinapses na infância quando comparado a fase adulta, favorecem o processo de aprendizagem. Porém, essa facilidade de aprendizado faz com que várias emoções diferentes sejam geradas com maior facilidade, e isso junto com o não desenvolvimento completo do pré-frontal dificulta o processo de racionalização nessa fase. Dessa forma, a criação de um modelo atencional implícito, ou seja, um modelo que vise desenvolver técnicas de atenção que facilitem a autogestão durante a infância se torna imprescindível para o melhor desenvolvimento de suas competências de forma independente. Com isso, espera-se que na vida adulta essas crianças possuam melhores capacidades individuais que se manifestam nos modos comportamentais de pensar (processar), sentir e gerar atitudes a partir de estímulos ambientais sociais, ou seja, gerar um padrão frequente otimizado de ação e reação frente a estímulos de ordem pessoal e social.

Desenho experimental
Para criação de um modelo de autogestão atencional implícito é importante que o mesmo seja testado experimentalmente para uma futura aplicação prática. Aqui, sugerimos um desenho experimental para esse propósito. Para isso precisamos definir uma intervenção que estimule de forma implícita a autogestão com uma base atencional. Essa intervenção atencional implícita de autogestão (IAIA) deve estimular crianças de 2 até 5 anos a criarem sua própria percepção de vida no cunho individual e social, livre de qualquer preconceito e definições de condutas certas ou erradas, incentivando a autogestão. Isso pode ser possível a partir de atividades, jogos e brincadeiras que estimulem a criação das próprias regras e ideias. Situações diárias e resolução de problemas como escolha de roupas, objetos, cores, brinquedos e comportamentos livre de predileções e influências externas de forma totalmente independente também devem ser estimuladas. Apresentação de vídeos e animações com conteúdos que possam oferecer um conhecimento amplo sem foco cultural e moral também podem ser implementados nesse tipo de intervenção do modelo implícito de autogestão. Para realização do experimento, pode ser investigado as alterações de atividade elétricas hemodinâmicas cerebrais através de avaliações eletroencefalográficas (EEG) e de Espectroscopia de infravermelho próximo (NIRS), respectivamente (Imagem abaixo 1). Trabalhos realizados com EEG e aprendizagem implícita também mostraram um aumento da potência da banda Alfa, particularmente na frequência de 10 Hz, durante uma tarefa de atenção focada em crianças, podendo ser associada à supressão de informações irrelevantes para a tarefa. Outros trabalhos realizados com NIRS localizou maior atividade cerebral principalmente no giro frontal inferior esquerdo do córtex pré-frontal dorsolateral, córtex frontotemporal direito e no córtex pré-frontal ventrolateral esquerdo, associado a um estado de alerta elevado. Assim, podemos avaliar 4 grupos: Grupo 1 (crianças com IAIA), Grupo 2 (adultos com IAIA), Grupo 3 (crianças sem IAIA), Grupo 4 (adultos sem IAIA).Todos os grupos realizariam inicialmente uma avaliação inicial cognitiva de aprendizagem implícita, atenção e autogestão, seguido de uma intervenção atencional implícita de autogestão como propomos por algumas semanas. Durante cada intervenção, também seria interessante acompanhar as alterações de EEG e NIRS ao decorrer de cada atividade. Após o período de intervenção, uma nova avaliação final similar a avaliação inicial seria realizada novamente (imagem abaixo 2). É importante que o trabalho seja realizado com crianças de 2 a 5 anos de idade que de famílias de múltiplas culturas e ideais na tentativa de excluir viés de influência externa na construção cognitiva.
Imagem 1

Imagem 2

Referencias:
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