Jackson Cionek
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Aprender com outro cérebro ao lado: hiperscanning, ritmo social e a pedagogia da co-presença

Aprender com outro cérebro ao lado: hiperscanning, ritmo social e a pedagogia da co-presença

(Consciência em Primeira Pessoa • Neurociência Decolonial • Brain Bee • O Sentir e Saber Taá)


O Sentir e Saber Taá

Eu entro numa sala e alguém está comigo.
Antes de qualquer palavra, algo no meu corpo muda:

  • minha postura ajusta,

  • meu ritmo respiratório oscila,

  • minha atenção se reorganiza,

  • meu corpo “ouve” o corpo do outro.

É como se, antes de pensar com essa pessoa, eu já estivesse pensando através dela.
Esse instante — esse microajuste pré-verbal — é Taá social.
É o sentir antes de saber que alguém está ali, e que a presença dela altera o meu próprio modo de existir naquele momento.

Quando a ciência captura dois cérebros ao mesmo tempo, ela está tentando registrar justamente isso:

o espaço entre nós que estrutura como aprendemos, criamos, cooperamos e nos sincronizamos.

O estudo que abre esse território é o de Ignacio Leiva-Cisterna, Pablo Barraza, Eric Rodríguez e Guillaume Dumas, publicado em 2025 em Social Cognitive and Affective Neuroscience:

“Multibrain sensory stimulation enhances dyadic cooperative behavior.”

Em vez de perguntar “o que acontece no meu cérebro enquanto cooperamos?”, eles perguntam:

O que emerge quando dois cérebros sentem o mesmo mundo ao mesmo tempo?


1. A lógica do estudo: o que significa estimular dois cérebros simultaneamente?

Os autores criaram uma situação simples, mas profunda:
duplas de participantes deveriam cooperar em uma tarefa, enquanto recebiam estimulação sensorial comum, simultânea e coordenada.

A hipótese é elegante:

  • quando dois corpos recebem o mesmo fluxo sensorial,

  • os cérebros podem se alinhar em ritmos de atenção, percepção e expectativa,

  • facilitando comportamentos cooperativos.

É como assistir a um filme com alguém: às vezes você respira junto, ri junto, silencia junto.
Algo se alinha, mesmo sem comunicação explícita.

A pergunta científica aqui é:

Será que um ambiente sincronizado cria condições neurais que facilitam cooperação?


2. O método: EEG em duplas (hiperscanning) e análise avançada

Este estudo utiliza hiperscanning EEG, registrando atividade neural de dois participantes simultaneamente.

As análises incluem:

1. Pré-processamento com ICA

  • Separação de artefatos musculares, piscadas e ruído;

  • Extração de componentes verdadeiramente neurais.

2. Medidas espectrais via FFT

  • Decomposição do sinal em bandas (alfa, beta, etc.);

  • Identificação de ritmos compatíveis entre as duas pessoas.

3. Correlação cruzada e sincronização

  • Medidas de inter-brain synchrony, verificando se as oscilações de um cérebro acompanham as do outro;

  • A análise pode incluir coerência, phase-locking value e outras métricas de conectividade.

4. PCA para padrões comuns

  • Uso de PCA para reduzir dimensionalidade e identificar padrões de sincronia comuns nas duplas.

5. Topografia e CSD

  • Mapas de onde, no couro cabeludo, a sincronização é mais intensa;

  • CSD (Current Source Density) pode melhorar a precisão espacial, diminuindo a “contaminação” entre eletrodos vizinhos.

Esse conjunto de técnicas forma o que hoje se entende como pipeline sólido de hiperscanning EEG.


3. O achado central: sincronizar sensações sincroniza comportamentos

O resultado é claro:

  • quando ambos recebiam o mesmo fluxo sensorial,

  • aumentavam os índices de sincronização inter-cerebral,

  • e isso estava associado a melhor cooperação.

O ambiente compartilhado cria uma espécie de “batimento” comum — não no sentido mecânico, mas em termos de ritmos de percepção.

Essa sincronia não é telepática.
É um fenômeno de co-modulação:

  • o mesmo estímulo afeta os dois,

  • de forma temporalmente alinhada,

  • permitindo que expectativas e respostas se tornem mais parecidas,

  • e, assim, mais fáceis de coordenar.


4. Como isso dialoga com nossos conceitos

a) Quorum Sensing Humano

Nosso conceito de QSH postula que humanos, como organismos sociais, regulam-se mutuamente via:

  • postura,

  • olhares,

  • ritmo respiratório,

  • cadências de fala,

  • proximidade e presença.

O estudo confirma:
quando o ambiente que chega aos dois corpos é compartilhado, os ritmos internos se aproximam.
Isso é quorum sensorial.

b) Yãy hã mĩy (Maxakali)

(origem: “imitar o animal antes de caçá-lo”)

No sentido estendido que utilizamos:

  • antes de agir com alguém,

  • eu “imito” o ritmo perceptivo dessa pessoa,

  • criando um espaço de ação compartilhada.

A sincronia inter-cerebral observada aqui é uma expressão mensurável dessa imitação profunda.

c) Zona 2 — a zona da fruição coletiva

Para cooperar plenamente, não posso estar em:

  • Zona 1 (automatismos rápidos),

  • nem Zona 3 (coerção, rigidez).

A cooperação emerge quando as duas pessoas conseguem acessar Zona 2 juntas,
onde há abertura, tempo, sensibilidade e presença.

O ambiente sensorial comum ajuda a levar o par para essa zona.

d) Mente Damasiana e co-percepção

Se consciência surge da integração interoceptiva + proprioceptiva, então:

  • quando dois corpos recebem estímulos coordenados,

  • suas integrações internas também se ajustam,

  • gerando espaços subjetivos compatíveis.

Esse estudo mostra que essa compatibilidade é visível em ritmos neurais.


5. Onde a ciência ajusta nossas ideias

Antes poderíamos imaginar que cooperação é:

  • raciocínio,

  • moralidade,

  • negociação,

  • boa vontade.

O estudo mostra que:

cooperação começa antes disso — no corpo sentindo junto.

Pequenos detalhes do ambiente podem facilitar ou sabotar cooperação:

  • iluminação,

  • ritmo de estímulos,

  • ruído de fundo,

  • temperatura,

  • cadência de tarefas.

Isso redefine pedagogia, política e arquitetura social.


6. Implicações educacionais e normativas para contextos LATAM

1. Salas de aula projetadas para sincronia

A aprendizagem colaborativa pode se beneficiar de:

  • estímulos sensoriais comuns bem planejados,

  • ritmos de exposição curtos,

  • pausas para desacoplar e reacoplar.

É exatamente o que Paulo Barraza vem sugerindo: ciclos de sincronia (3–12s) e desincronia (8–20s).

2. Reuniões comunitárias e assembleias populares

Ambientes ruidosos e caóticos quebram sincronia.
Ambientes harmonizados favorecem deliberação coletiva.

3. Sistemas educacionais descentralizados

Uma pedagogia baseada em sincronia não é sobre “transmitir conteúdo”,
mas sobre regular ritmos de presença.

4. Políticas urbanas

Espaços comunitários devem ser pensados para facilitar co-presença real, não apenas coexistência física.


7. Palavras-chave para busca científica

“Leiva-Cisterna Barraza Dumas 2025 multibrain sensory stimulation dyadic cooperation hyperscanning EEG ICA FFT PCA inter-brain synchrony SCAN”







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Jackson Cionek

New perspectives in translational control: from neurodegenerative diseases to glioblastoma | Brain States