Jackson Cionek
10 Views

Antes da Palavra: Fruição e Pertencimento no Cérebro Pré-Linguístico

Antes da Palavra: Fruição e Pertencimento no Cérebro Pré-Linguístico

Consciência em Primeira Pessoa Brain Bee Ideas

Antes da linguagem, já existe vida.
E antes da fala, já existe consciência.
A experiência humana não começa no verbo, mas no ritmo — o mesmo que movimenta o sangue, a respiração e a oxigenação cerebral do recém-nascido.

Nos meus conceitos, o que chamamos de “mente” é um fluxo contínuo entre interocepção (sentir o corpo por dentro) e propriocepção (sentir o corpo em relação ao espaço).
A isso denomino Mente Damasiana, uma instância viva da consciência corporal.
Nela, o pensamento ainda não se expressa em palavras, mas em movimentos e trocas energéticas.

O estudo da fisiologia neonatal mostra que, mesmo antes do primeiro som, o cérebro já organiza mundos — hemadinâmicos, respiratórios e afetivos.
É nesse ponto que a Neurociência Decolonial encontra a biologia: a consciência é primeiro metabólica, depois simbólica.


Zona 2: a homeostase da Fruição

Em meus conceitos, a Zona 2 é o território da Fruição fisiológica — o ponto em que o corpo e a mente se equilibram metabolicamente, permitindo que o pensamento flua sem esforço.
Nos neonatos, essa Zona 2 é espontânea: o bebê oscila entre estados de ativação e repouso de modo cíclico, autorregulando o consumo de oxigênio cerebral conforme o ritmo respiratório.

Os estudos de Epain et al. (2025) sobre respostas emocionais e fisiológicas à música demonstram que sons graves amplificam a coerência entre os sistemas auditivo e autonômico.
Embora o trabalho tenha sido feito em adultos, ele ecoa a função primordial da Zona 2: a ressonância corpo-som que já se manifesta no berço.

No campo neonatal, a Artinis Medical Systems desenvolveu metodologias fNIRS que confirmam esse mesmo princípio: a atenção e o repouso são estados hemodinâmicos, não cognitivos.
O artigo Developing Customized NIRS-EEG for Infant Sleep Research descreve que, durante o sono, o bebê alterna padrões de perfusão cerebral e atividade elétrica de forma previsível — como se respirasse pensamento.
Outro trabalho, Near-Infrared Spectroscopy for Neonatal Sleep Classification, demonstra que o sono ativo e o sono quieto possuem assinaturas distintas de oxigenação, reforçando que a consciência pré-linguística é um ciclo fisiológico de Fruição.


Interocepção: o primeiro idioma

A interocepção é a percepção do corpo por dentro — calor, pressão, batimento, respiração.
É o primeiro idioma do ser.
O bebê aprende a existir modulando essas sensações, muito antes de reconhecer sons ou rostos.

O estudo Respiratory Rate Extraction from Neonatal NIRS Signals mostra que é possível extrair a frequência respiratória diretamente do sinal fNIRS, revelando o acoplamento entre respiração e oxigenação cerebral nos primeiros dias de vida.
Essa correlação indica que a interocepção já atua como um mecanismo de auto-observação: o corpo mede a si mesmo para manter a consciência estável.
Esse processo é a expressão fisiológica da Mente Damasiana, onde sentir e pensar ainda não se separaram.


Pele que pensa: o corpo como território de pertencimento

A relação entre o toque e a consciência é central na experiência humana.
O bebê não pensa sobre o outro — ele sente o outro.
A pele é seu primeiro território político e espiritual.

O estudo Cerebral Hemodynamic Response to a Therapeutic Bed for Procedural Pain Management in Preterm Infants (Calmer) evidencia que o simples contato tátil — um leito que imita o calor e a textura da pele materna — reduz significativamente a resposta dolorosa e reorganiza o fluxo sanguíneo cerebral em prematuros.
Isso confirma que o pertencimento físico é uma tecnologia natural de regulação, anterior à linguagem.

Nos meus conceitos, esse fenômeno expressa o Quorum Sensing Humano (QSH): a capacidade de ajustar o próprio estado fisiológico pela presença e densidade emocional do outro.
Assim como as bactérias modulam sua conduta pela concentração química ao redor, os seres humanos modulam sua consciência pela vibração dos corpos próximos.

Em recém-nascidos, o toque e o calor cumprem exatamente essa função — mantêm o cérebro em Zona 2 coletiva, prevenindo o colapso energético da solidão fisiológica.


O metabolismo como consciência

Toda experiência subjetiva tem um correlato metabólico.
A consciência é a coordenação rítmica entre energia, sangue e respiração.
Mesmo antes de nascer, o feto já apresenta variações de oxigenação cerebral mensuráveis por fNIRS.
O estudo Fetal Oxygenation Measurement Using Wireless NIRS demonstra que o cérebro fetal regula sua perfusão conforme as flutuações respiratórias maternas.
Essa autorregulação é a forma mais primitiva daquilo que depois chamaremos de “atenção”.

Nos meus conceitos, esse é o embrião da Fruição — a capacidade de estar presente sem esforço, sustentada por um equilíbrio entre entrega e metabolismo.
O feto, ainda sem palavra, já pratica o que na vida adulta tentamos recuperar por meio da meditação: o repouso lúcido dentro do fluxo da vida.


Eus Tensionais e o nascimento do pensamento

No início da vida, cada estímulo — som, luz, toque — é uma tensão corporal que reorganiza o sistema.
Chamo de eus tensionais esses micro-estados de reorganização, que mais tarde se transformarão em emoções, crenças e padrões de ação.
Um exemplo clínico vem do estudo Changes in Cerebral Oxygenation during Cranial Ultrasound in Preterm Infants: mesmo um estímulo neutro, como o toque do transdutor sobre a fontanela, altera a oxigenação cortical.
O corpo, portanto, pensa com o que o toca.

Cada tensão é um aprendizado metabólico.
O bebê, ainda sem conceito de “eu”, acumula experiências de coerência e ruptura que moldam a futura topologia da consciência.
Esse aprendizado não é verbal, é rítmico.
É o nascimento da memória interoceptiva — a lembrança do que foi bom porque manteve o corpo em fluxo.


Plasticidade Relacional e Co-Regulação

As recentes pesquisas de hyperscanning (EEG–fNIRS) da NIRx em adultos e adolescentes mostram que cérebros em interação tendem à coerência inter-hemodinâmica, ou seja, sincronizam seu fluxo sanguíneo e elétrico durante atividades cooperativas.
O mesmo princípio se observa no vínculo mãe-bebê.
A co-regulação é o primeiro exercício da Plasticidade Relacional, onde o sistema nervoso aprende a se moldar em resposta à presença do outro.

Esse é o fundamento fisiológico da empatia:
pensar com o outro antes de pensar sobre o outro.
Na fase pré-linguística, esse processo é total — o bebê é empatia pura, sem fronteiras cognitivas.


Neurociência Decolonial do Início da Vida

A tradição científica ocidental costuma ver o recém-nascido como um ser inacabado, passivo, “em desenvolvimento”.
Mas a Neurociência Decolonial propõe outra leitura: o bebê é um ser pleno em seu modo de consciência.
Sua mente é pré-semântica, mas pós-biológica — um campo vibrante de trocas químicas, elétricas e afetivas.

Enquanto a colonização cultural impôs à mente adulta a separação entre corpo e razão, o bebê encarna a unidade perdida.
Ele vive em Zona 2 contínua, onde não há diferença entre fruir e existir.
E é esse estado que nossas sociedades deveriam preservar, não domesticar.


Conclusão

Antes da fala, há pertencimento.
Antes da linguagem, há ritmo.
Antes da cultura, há vida em Zona 2 — o equilíbrio silencioso entre o sangue que flui e o ar que entra.

As pesquisas neonatais da Artinis revelam que o cérebro já nasce capaz de sentir o próprio fluxo e responder ao cuidado.
Elas confirmam, com evidência empírica, que a consciência não é produto da linguagem, mas seu antecedente.

Fruição, Mente Damasiana, Quorum Sensing Humano e Eus Tensionais não são metáforas:
são descrições bioéticas da existência — a vida aprendendo a se equilibrar consigo mesma antes de aprender a falar.

O desafio da neurociência contemporânea é reconectar-se com essa sabedoria fisiológica:
lembrar que todo pensamento começa como respiração,
e toda palavra foi, um dia, apenas silêncio em oxigênio.


Referências – Publicações Artinis e correlatas (2024–2025)

  • Developing Customized NIRS-EEG for Infant Sleep Research.

  • Near-Infrared Spectroscopy for Neonatal Sleep Classification.

  • Respiratory Rate Extraction from Neonatal NIRS Signals.

  • Cerebral Hemodynamic Response to a Therapeutic Bed for Procedural Pain Management in Preterm Infants (Calmer).

  • Fetal Oxygenation Measurement Using Wireless NIRS.

  • Changes in Cerebral Oxygenation during Cranial Ultrasound in Preterm Infants.

  • Epain et al. (2025). Bass Amplification Impacts Emotional, Neural and Physiological Responses to Music.

  • Gehrke et al. (2025). Neuroadaptive Haptics for Adaptive XR Systems.



#eegmicrostates #neurogliainteractions #eegmicrostates #eegnirsapplications #physiologyandbehavior #neurophilosophy #translationalneuroscience #bienestarwellnessbemestar #neuropolitics #sentienceconsciousness #metacognitionmindsetpremeditation #culturalneuroscience #agingmaturityinnocence #affectivecomputing #languageprocessing #humanking #fruición #wellbeing #neurophilosophy #neurorights #neuropolitics #neuroeconomics #neuromarketing #translationalneuroscience #religare #physiologyandbehavior #skill-implicit-learning #semiotics #encodingofwords #metacognitionmindsetpremeditation #affectivecomputing #meaning #semioticsofaction #mineraçãodedados #soberanianational #mercenáriosdamonetização
Author image

Jackson Cionek

New perspectives in translational control: from neurodegenerative diseases to glioblastoma | Brain States