Já imaginou chegar em um estado de transcendência e plenitude decorrente de um estado de felicidade crônico que vai perdurar até o final da sua vida? Esse é o desejo da maioria das pessoas almejam, porém é basicamente impossível realizá-lo. Infelizmente, não existe uma receita de bolo que se aplique para todas as pessoas, cada uma com a sua particularidade de vida. Porém, se conseguirmos modular nossa consciência a ponto de termos uma maior adaptação diante de adversidades. Antes de abordarmos esse assunto, definiremos o que é consciência. 
 
   A consciência é algo ainda difícil de se definir e de ser estudada e tem sido bastante pesquisada nas áreas de filosofia da mente, na psicologia, neurologia e ciência cognitiva. A consciência é uma qualidade da mente, considerando abranger qualificações tais como subjetividade, autoconsciência, senciência, sapiência, e a capacidade de perceber a relação entre si e um ambiente. A consciência pode ser vista como o conjunto dos dados da experiência individual que se oferece ao conhecimento imediato. Essas experiências individuais a tornam um alvo de pesquisas neurocientíficas para entender como elas podem ser processadas no nosso cérebro, observando o seu conteúdo consciente e autoconsciente. Embora ainda não conheçamos muitas informações ainda relacionadas ao funcionamento do cérebro no contexto  da consciência, do código neural e da existência de conectividade entre áreas cerebrais, conhecemos muitos padrões específicos de funcionamento do cérebro em diferentes situações. Os estados cerebrais são padrões de disparo neural síncrono que refletem a face elétrica do cérebro. As redes neurais do cérebro podem suportar uma variedade de estados cerebrais com diferentes padrões de atividade, conectividade funcional e dinâmica. Seus estados de atividade correspondem em grande parte a diferentes níveis de consciência. Um aspecto interessante da consciência é a presença de 'culpa' ou 'vergonha' antes e depois de um ato negativo ser contemplado. Trabalhos envolvendo fMRI mostram que culpa e vergonha compartilham locais semelhantes de ativação envolvendo áreas pré-frontal, temporal e límbica, com ativação específica da amígdala e ínsula ao sentir culpa e ativação das áreas cingulada anterior e parahipocampal durante a experiência da vergonha. É possível que a culpa e a vergonha ativam o circuito reverberante descrito acima, resultando em comportamentos compulsivos.
 
   Toda consciência interage diretamente e indiretamente com respostas comportamentais de cada indivíduo dentro de sua sociedade. Somos uma espécie intensamente social, onde a nossa natureza social define o que nos torna humanos, o que nos torna conscientes ou o que nos deu nossos grandes e tão adorados cérebros. É interessante, mas, a cada dia estamos encontrando novos vínculos entre ação e percepção, emoção e razão, entre representações de outras pessoas e de nós mesmos. Comportamento humano é muito mais complexo do que simplesmente comportar-se! Por atitude por trás de cada percepção, de cada interesse, de cada palavra dita ou não dita, existe uma estrutura muitas vezes determinante por trás. Um comportamento específico, pode ser definido a partir de fatores genéticos (dependendo da expressividade ou não de um gene responsável por um comportamento inato), de fatores ambientais (relacionado com aprendizagem ao longo da vida) ou fatores relacionados a ambos (como é o caso da epigenética, onde fatores ambientais influenciam fenótipos do comportamento). Um exemplo disso, é a influência negativa de ambientes privados de estímulos positivos cognitivos, como uma boa base educativa por exemplo, que geram alterações cerebrais estruturais e funcionais durante todo o desenvolvimento do indivíduo. Um comportamento específico, pode ser definido a partir de fatores genéticos (dependendo da expressividade ou não de um gene responsável por um comportamento inato), de fatores ambientais (relacionado com aprendizagem ao longo da vida) ou fatores relacionados a ambos (como é o caso da epigenética, onde fatores ambientais influenciam fenótipos do comportamento). Nesse sentido, nossas relações próprias e expressões  cerebrais acabam sendo moduladas por essas experiências, por essas escolhas que não foram nossas, por esse “querer” que não foi escolhido.
 
  Sabendo de tudo isso, como podemos modular nossa consciência para nosso benefício próprio? Para melhor responder essa pergunta, podemos utilizar uma brincadeira popular da "pedra, papel ou tesoura" (imagem ao lado) para melhor definir alguns conceitos e tentar encontrar algumas soluções. Como sabemos, nessa brincadeira você escolhe "pedra, papel e tesoura" e cada uma tem alguma característica que anule ou não a outra. Aqui, vamos metaforicamente definir as características de estados comportamentais/consciência associados a cada um desses objetos para que dessa forma você possa escolher qual o melhor para anular ou não determinadas situações. Vamos jogar!


Pedra
 
   A pedra representa rigidez, durabilidade e força. Manter o foco na "ação" como atacar ou defender, jogar e organizar.  Está relacionada com as funções cerebrais executivas e preza pela potencialização  da aprendizagem implícita (ou seja, o aprendizado inconsciente), motoras e cognitivas. Isso pode  ser alcançado a partir do melhoramento dos hábitos de vida como um todo, focando na saúde mental e do corpo e nas relações pessoais. É o que devemos fazer e desenvolver para otimizar nosso tempo e eficiência na ação, não sendo restrito em executar um pensamento ou atitude. Uma pessoa com "capacidade pedra" possui grandes habilidades executivas para resolver problemas sempre buscando manter seu bem estar. Uma das vias fisiológicas responsáveis por essa característica é a aprendizagem via glutamato e poda sináptica. O  glutamato é obtido localmente através do sistema nervoso central, principalmente nos astrócitos que circundam e sustentam os neurônios. Ele reforça as sinapses dedicadas a recordar o comportamento apropriado a um estímulo ambiental específico. A prática repetida de comportamentos também é acomodada via glutamato para garantir eficiência e ausência de erros na aplicação.  Além disso, a poda sináptica também auxilia o glutamato no aprendizado e é caracterizada pela fagocitose de sinapses não utilizadas. A poda sináptica normalmente ocorre entre as idades de 8 e 11 anos (aprendendo a evitar lesões físicas) e entre 18 e 25 anos no córtex pré-frontal de forma seletiva (aprendendo a viver e trabalhar de forma colaborativa). Os comportamentos de cuidado são aprendidos e programados durante os primeiros 2 anos de vida em reação ao cuidado parental, que com sua negligência está associada a comportamentos mais prejudiciais na vida adulta.


Papel
 
O papel representa maleabilidade, transcendência e resiliência. Está relacionado com estados alterados de consciência associado ao bom humor necessário para se adaptar às adversidades do meio através da resiliência emocional.  A Resiliência emocional está relacionada à capacidade de alguém lidar com as próprias emoções, demonstrando equilíbrio e controle sobre suas reações emocionais adversas, como por exemplo raiva, insegurança e ansiedade, sem apresentar mudanças bruscas, o que leva a mudanças em seu comportamento. Pessoas com maior nível dessa competência confiam mais em suas capacidades para desenvolver tarefas e regular suas emoções. Já aquelas com níveis mais baixos tendem a ser emocionalmente mais instáveis, afetando-se facilmente pelas situações cotidianas. Pode ser difícil para elas voltarem a um estado emocional de tranquilidade uma vez que tendem a serem mais irritadas, ansiosas e impulsivas. Indivíduos que desenvolvem resiliência emocional conseguem lidar com situações adversas com tranquilidade e positividade. O principal sistema fisiológico que pode ser associado a tudo isso é o sistema serotoninérgico (5-HT), que é responsável por inibir sensações como ira, agressividade, calor corporal, mau humor, favorecendo o melhor processamento de informações advindas do meio trazendo melhores respostas comportamentais. Mais de 80% da 5-HT é produzida pela microbiota intestinal, embora um suprimento local seja produzido pelo núcleo da rafe do tronco encefálico e seja distribuído para as áreas pré-frontal e límbica. Estudos mostram que existe uma relação estreita entre baixos níveis de serotonina e aumento do risco de depressão, ansiedade e insônia.


Tesoura
A tesoura representa  habilidade, execução, o "recorte". Está relacionada com  aprendizado explícito (ou seja, aprendizado consciente) a partir do uso da razão e da lógica  para "aprender, classificar, organizar e direcionar". Relaciona-se à habilidade de fazer escolhas na vida pessoal ou social, estimulando a liberdade e a autonomia. Quem é capaz de exercer mais a autogestão apresenta-se como alguém mais disciplinado, perseverante, eficiente e orientado para suas metas. Pessoas com essa ferramenta bem desenvolvida têm mais facilidade em estruturar e gerenciar com cuidado e antecedência suas atividades. As principais áreas responsáveis por integrar e, finalmente, fazer escolhas e julgar de forma organizacional um comportamento  são as áreas dos córtex pré frontal e ínsula. Essas criam uma espécie de representação tridimensional do eu em relação ao ambiente, para auxiliar na seleção da ação. No entanto, a probabilidade de uma determinada resposta é influenciada por episódios e consequências anteriores (informações fornecidas pelo hipocampo, responsável pela aprendizagem explícita), bem como por áreas do cérebro associadas à consciência.
 
   O principal agente modulador de comportamentos negativos é a “consciência” de uma pessoa, uma consciência instintiva de que certos comportamentos são inúteis para os outros e, com o tempo, para si mesmo. Durante a primeira infância, juntamente com o ensino moral e a modelagem de outros humanos, deve-se desenvolver a consciência individual. Neuroquimicamente falando, a consciência pode ser vista como supressão glutamatérgica do excesso de impulsos dopaminérgicos/adrenérgicos, com mais estímulos alcançados pela obtenção de crenças (como insights religiosos através de um "poder superior", por exemplo) ou pela utilização de técnicas psicológicas como mindfulness. Dessa forma, esses mecanismos podem ser utilizados para modulação de tais comportamentos. No quesito obtenção de crenças, a expectativa é buscar o arrependimento de seus impulsos negativos, minimizando a acessibilidade de pistas ambientais e estando atento a possíveis recaídas. Essa abordagem de evitação e vigilância também é usada por organizações seculares como Alcoólicos Anônimos. Já o mindfudness é o modo como um indivíduo pensa e como ele pode "configurar seus pensamentos"no intuito de enfrentar as mais diversas situações do cotidiano. a prática do Mindfulness leva a mudanças no autoprocessamento, por meio do desenvolvimento da autoconsciência (metaconsciência), autorregulação (modulação do comportamento) e autotranscendência (características pró-sociais). Essas mudanças refletem a modulação nas redes neurocognitivas relacionadas à intenção e motivação, regulação da atenção e emoção, extinção e reconsolidação, prosocialidade, desapego e descentralização. Dentre os vários estudos que  investigaram o efeito da prática de meditação mindfulness de longo prazo usando técnicas de fMRI baseadas em morfometria, demonstraram mudanças estruturais no: hipocampo; ínsula anterior direita; córtex orbitofrontal; córtex cingulado anterior; pólo temporal esquerdo; giro frontal esquerdo; sulco frontal direito; corpo caloso e regiões do tronco cerebral - regiões envolvidas com a circuitaria de emoção.





REFERÊNCIAS:
 
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GUENDELMAN, Simón; MEDEIROS, Sebastián; RAMPES, Hagen. Mindfulness and emotion regulation: Insights from neurobiological, psychological, and clinical studies. Frontiers in psychology, p. 220, 2017.

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LIEBERMAN, Matthew D. Neurociência social cognitiva: uma revisão dos processos centrais. Annu. Rev. Psychol. , v. 58, p. 259-289, 2007 

Cruz-Albarran, Irving A., et al. "Human emotions detection based on a smart-thermal system of thermographic images." Infrared Physics & Technology 81 (2017): 250-261.

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VAGO, David R.; DAVID, Silbersweig AMD. Self-awareness, self-regulation, and self-transcendence (S-ART): a framework for understanding the neurobiological mechanisms of mindfulness. Frontiers in human neuroscience, v. 6, p. 296, 2012.

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Autor:

Rodrigo Oliveira

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