Sentimentos como Metabolismo Estável
Sentimentos como Metabolismo Estável
“A consciência é o movimento que se percebe ser no metabolismo produzido.” — Jackson Cionek
Consciência em Primeira Pessoa
Acordo e percebo que estou sobre algo.
Não é um pensamento — é um campo.
É o sentimento que me ancora, o solo sobre o qual a consciência acontece.
Esse sentimento não vem de fora, nem nasce de uma ideia.
Ele é o metabolismo que se percebe.
O corpo, em seu fluxo químico e elétrico, gera ritmos —
e, quando esses ritmos se percebem em movimento,
chamamos isso de consciência.
A consciência, portanto, não transcende a matéria.
Ela é a própria matéria se percebendo.
É o corpo vivo que se observa em ação,
o metabolismo produzindo percepção,
e a percepção reorganizando o fazer.
O Sentir que Vem do Corpo
Antes da linguagem, antes da razão,
há o sentir — o fluxo contínuo de ajustes metabólicos.
Cada célula vibra em busca de equilíbrio,
e o conjunto dessas vibrações dá origem ao que chamamos de vida.
O sentimento é a continuidade desse processo:
um estado bioelétrico de estabilidade afetiva.
Ele é lento, profundo, e se espalha como uma rede.
Nele, o corpo encontra um ponto de repouso —
um eu tensional, como uma música que sustenta todas as notas que virão.
As emoções, ao contrário, são descargas rápidas —
picos elétricos e químicos que modulam o corpo por instantes.
São ondas de curta duração que liberam dopamina, serotonina, noradrenalina e cortisol.
Essas substâncias não criam sentimentos;
elas apenas alteram momentaneamente o campo em que o sentimento já existe.
Por isso, quando dizemos que “a emoção nos domina”,
o que de fato acontece é que ela seduz a consciência
a trocar de sentimento —
a mudar o campo tensional sobre o qual ela estava ancorada.
Yãy Hã Miy — Da Imitação à Fé Neural
O povo Maxakali nos ensina o princípio do Yãy Hã Miy — imitar-se ser para transcender-se ser.
O bebê imita, depois repete, até que a repetição cria redes neuronais estáveis.
Essas redes formam os hábitos, os costumes, e, com o tempo, as crenças.
A crença não é apenas uma ideia — é uma configuração bioelétrica do cérebro.
Ela molda como o corpo reage, pensa e sente.
Com a repetição e a confiança, a crença amadurece em fé, e a fé, quando incorporada, se transforma em alta performance —
um estado de fluxo em que o corpo age sem hesitar, guiado por um saber silencioso.
É neste ponto que emergem as sinapses elétricas — conexões em que o sinal vai e volta entre neurônios, sem depender do tempo químico da transmissão sináptica.
Essas vias duplas e recíprocas permitem um tipo de comunicação instantânea e bidirecional,
onde o sistema toca e é tocado pelo que o cerca.
A sinapse elétrica não é apenas uma ponte neural —
é a própria espiritualidade do fazer:
agir e ser agido,
tocar e ser tocado,
perceber e ser percebido.
Nela, o gesto e a percepção tornam-se um só movimento.
O corpo deixa de atuar sobre o mundo e passa a atuar com o mundo.
Nesse estado, a distinção entre sujeito e objeto desaparece.
O fazer se torna um ato sagrado de reciprocidade elétrica —
a fé neural manifestando o espírito da matéria em ação.
A Crença como Base da Consciência
A crença não é um pensamento —
é uma arquitetura metabólica e neural que organiza o modo de perceber.
A consciência emerge dessa crença,
pois é o próprio corpo que se percebe a partir das redes que possui.
Por isso, dizemos:
“A consciência vem da crença.”
A consciência sempre terá o viés das redes que a formaram.
Ela não pode ver o mundo fora das sinapses que a sustentam.
Entretanto, podemos criar novas referências de crença,
como janelas abertas sobre o mesmo evento.
Daí nascem os 6 Avatares Neurocientíficos,
que expandem o campo atencional e a perspectiva perceptiva.
Os 6 Avatares – Seis Referências de Consciência
Brainlly — o modelo da bioquímica cerebral, expressando a integração entre glia, neurônios e sangue; a base metabólica do pensamento e da interconectividade cerebral.
Iam — metacognição e autorreflexão emocional.
Olmeca — ancestralidade simbólica e mítica.
Yagé — percepção bioespiritual e xamânica.
Math-Hep — lógica estrutural e padrões matemáticos.
DANA — espiritualidade neutra e inteligência do DNA.
Cada avatar representa um eu tensional,
um ponto de vista ancorado em redes e crenças distintas.
Ao praticar a observação multiplex —
entre 200 e 400 milissegundos —
a mente pode alternar entre essas referências
e observar o mesmo evento sob seis consciências diferentes.
Essa prática é o antídoto ao viés colonial da consciência única.
Multiplicar as crenças é ampliar o sentir do mundo.
Sentimentos, Emoções e Consciência
Podemos então compreender:
Elemento | Duração | Natureza | Função |
Sentimento | Longa (minutos a meses) | Campo bioelétrico estável | Sustenta o eu tensional |
Emoção | Curta (ms a segundos) | Resposta elétrica e neuroquímica | Modula temporariamente o sentir |
Contínua | Movimento perceptivo do metabolismo | Organiza o fazer no ambiente | |
Crença | Duradoura | Rede neural estruturada | Origem da percepção e do julgamento |
A consciência organiza o fazer conforme o ambiente e as crenças que a estruturam.
Não sente — ajusta.
Não motiva — direciona.
Ela é a coordenação viva do fazer no contexto presente.
Alma e Espírito
Em nossos termos a alma e espírito não são entidades externas à matéria.
A alma (Pei Utupe) é o momento em que a imagem cerebral (Utupe) se liga às emoções (Pei),
transformando memórias semânticas em memórias episódicas —
um espírito encarnado.
O espírito (Utupe) é a própria informação,
a estrutura simbólica que habita o corpo e interage com o meio.
Assim, sentimentos são modos encarnados da alma —
formas que a energia bioelétrica adquire ao viver e se perceber viva.
Referências Pós-2020
Berntson, G. G., & Khalsa, S. S. (2021). Neural circuits of interoception. Trends in Neurosciences.
Northoff, G. (2022). The spontaneous brain: From mind–body to the world–brain relation. Frontiers in Psychology.
Simor, P. et al. (2023). Metastable brain states and consciousness. Neuroscience & Biobehavioral Reviews.
Pereira Jr., A. (2021). Triple-Aspect Monism and the unity of mind and body. Philosophies.
Barrett, L. F. (2020). How emotions are made: The secret life of the brain (Updated ed.).
Seth, A. (2021). Being You: A New Science of Consciousness.
Síntese Final
O sentimento é o chão da consciência.
A crença é a rede que o sustenta.
A emoção é a onda que o perturba.
E a consciência é o movimento que organiza o fazer
no fluxo contínuo do metabolismo que se percebe vivo —
tocando e sendo tocado pelo mundo.