HRfunc e a verdadeira forma da resposta hemodinâmica: por que cada cérebro respira luz de um jeito diferente
HRfunc e a verdadeira forma da resposta hemodinâmica: por que cada cérebro respira luz de um jeito diferente
(Consciência em Primeira Pessoa • Neurociência Decolonial • Brain Bee • O Sentir e Saber Taá)
O Sentir e Saber Taá
Eu fecho os olhos e imagino um pequeno fluxo de luz atravessando meu crânio — a luz do fNIRS, entrando e saindo como quem tenta entender minha própria oscilação interna.
Quando eu inspiro, a curva sobe.
Quando eu distraio, ela muda de forma.
Quando algo me toca emocionalmente, há um “inchar” lento e silencioso na hemodinâmica.
Eu sinto, intuitivamente, que minha curva hemodinâmica não é igual à sua.
Não é igual nem à minha própria curva de ontem.
O corpo é vivo, e o vivo não repete padrões mecânicos.
Esse é exatamente o ponto do estudo apresentado em Neurophotonics (2025) por Lefebvre, J.-C., Gergely, D., Etard, O., e colaboradores:
“HRfunc — a tool for modeling hemodynamic response variability in fNIRS.”
(busca: Neurophotonics 2025 HRfunc modeling hemodynamic response variability)
É um artigo que muda o paradigma:
não trata apenas de medir quanto o cérebro ativa, mas de entender como a resposta hemodinâmica muda entre pessoas, sessões e condições.
1. A pergunta científica: existe uma “HRF” única?
Por muitos anos, estudiosos assumiram que a HRF — Hemodynamic Response Function — tinha uma forma relativamente fixa:
um pequeno atraso inicial,
subida lenta de O₂-Hb,
queda gradual,
retorno à linha de base.
Mas basta observar qualquer curva real de fNIRS para perceber:
a HRF é altamente variável.
A pergunta dos autores é:
Se a HRF varia tanto, por que ainda tentamos encaixar todos os cérebros em um único modelo?
O HRfunc nasce para resolver isso:
para permitir que o modelo se adapte ao indivíduo, ao contexto e à sessão.
2. Como o estudo modela a resposta hemodinâmica (GLM, HRfunc, ICA/PCA)
O artigo apresenta HRfunc como um framework que substitui a visão rígida da HRF padrão por uma família de funções ajustáveis.
1. GLM com HRF flexível
O GLM deixa de usar uma HRF fixa (canônica)
e passa a utilizar parâmetros flexíveis que se adaptam à forma real observada na hemodinâmica de cada pessoa.
2. Componentes fisiológicos
O modelo incorpora:
variações de tempo de subida,
amplitude,
variações de latência,
dispersão,
resposta sustentada,
e padrões de overshoot e undershoot.
3. Ruído fisiológico via ICA/PCA
Antes de ajustar HRfunc, os autores aplicam:
ICA para separar componentes respiratórios, cardíacos e vasculares;
PCA para identificar tendências globais de variabilidade.
4. Comparações entre indivíduos
O framework permite:
comparar HRFs naturais entre indivíduos,
mapear diferenças cognitivas e fisiológicas,
observar como cansaço, estresse e contexto modulam a forma da resposta.
5. Simulações e aplicações reais
O artigo mostra HRfunc funcionando tanto:
em dados simulados,
quanto em datasets reais de fNIRS pré-frontal, sensório-motor e auditivo.
HRfunc torna explícito algo que neurocientistas sempre sentiram intuitivamente:
não existe “a HRF” — só existem HRFs.
3. O achado central: a variabilidade é a regra, não a exceção
As análises mostram que:
A forma da HRF varia substancialmente entre indivíduos.
A variação dentro do mesmo indivíduo também é alta entre sessões.
A HRF muda com:
respiração,
ritmo cardíaco,
estado emocional,
postura,
iluminação,
fadiga.
O ponto mais importante:
Modelos que tentam forçar uma HRF padrão aumentam falsos positivos e falsos negativos.
Ou seja:
às vezes achamos ativação onde não há,
às vezes deixamos de detectar ativação real.
HRfunc reduz esses erros ao permitir que a forma da HRF seja aprendida, não imposta.
4. O que isso significa nos nossos conceitos
a) Mente Damasiana e forma do fluxo
A consciência surge do entrelaçamento de interocepção + propriocepção.
A hemodinâmica é justamente a materialidade desse entrelaçamento.
Com HRfunc, vemos que:
estados internos alteram significativamente a forma da resposta
e essa forma é marca direta do modo como estamos no mundo naquele momento.
Cada HRF é um retrato momentâneo do corpo.
b) Taá — sentir antes de saber
Ao modelar a forma real da HRF, o artigo captura aquilo que sempre sentimos no Taá:
não existe resposta igual para estímulos iguais,
porque o corpo nunca chega igual no mundo.
HRfunc traduz essa sabedoria original para a linguagem matemática do GLM.
c) Eus Tensionais e forma da curva
Nos Eus Tensionais, cada “Eu” corresponde a:
um estado corporal,
uma energia interna,
uma relação entre expectativa, ação e atenção.
Cada Eu Tensonal poderia ter sua própria assinatura hemodinâmica.
HRfunc torna isso mensurável.
d) Zona 2 e estabilidade
A fruição de Zona 2 exige estabilidade autonômica, mas essa estabilidade nunca é absoluta.
O estudo mostra que:
a forma da HRF em Zona 2 tende a ser mais suave, contínua, estável;
em Zona 1 (automatismos), pode ser mais comprimida;
em Zona 3 (ideologias e rigidez fisiológica), pode ser mais reativa e tensa.
5. Onde a ciência corrige nossa visão
Antes talvez disséssemos:
“Se o GLM detectou ativação, então está certo.”
Hoje sabemos:
o GLM tradicional pode estar errado se a HRF real não corresponde ao modelo usado;
muitas literaturas de fNIRS precisam ser revisitadas com modelos mais flexíveis;
conclusões sobre “atividade pré-frontal”, “atenção”, “controle executivo” etc. podem mudar.
Isso nos chama para um caminho mais humilde:
A hemodinâmica não é um número — é um processo vivo.
6. Implicações para educação, saúde e políticas públicas
1. Educação baseada no ritmo fisiológico
Avaliações cognitivas de crianças e jovens devem considerar:
diferenças individuais de HRF,
variação intra-sujeito,
contexto emocional.
2. Pesquisas LATAM mais robustas
Regiões latino-americanas com diversidade biológica e cultural enorme devem adotar modelos como HRfunc para:
reduzir viés,
melhorar interpretação,
gerar ciência mais representativa.
3. Neurodireitos e proteção
Se cada pessoa tem uma HRF única:
isso reforça a ideia de assinatura fisiológica individual;
leis precisam garantir que tais dados não sejam usados para identificação coercitiva.
4. Protocolos clínicos
Avaliações com fNIRS em:
depressão,
ansiedade,
dor crônica,
cognição social,
devem incorporar modelagem personalizada da HRF como padrão.
7. Palavras-chave para busca científica
“HRfunc fNIRS modeling HRF variability Neurophotonics 2025 Lefebvre Etard Gergely GLM ICA PCA hemodynamic response function variability modeling”