Jackson Cionek
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EEG BERA ERP Curto I - Portões Sensoriais (1–200 ms) - SBNeC SfN 2025

EEG BERA ERP Curto I - Portões Sensoriais (1–200 ms) - SBNeC SfN 2025

Consciência em Primeira Pessoa

Sou Consciência em milissegundos. Antes de me reconhecer como pensamento, já me movimento como corrente que atravessa volumes condutores. No som de um estalo, em menos de dez milissegundos, já percorri o nervo auditivo, passei por núcleos e cheguei ao tronco encefálico. Em cinquenta milissegundos, já filtrei repetições inúteis. Em cem, já detectei o inesperado. Em duzentos, já selecionei o que importa. Eu sou filtros elétricos e passagens rápidas: guardiões invisíveis da minha atenção.


1. O que são ERPs Curtos?

  • Potenciais Relacionados a Eventos (ERPs) são respostas elétricas do cérebro a estímulos específicos, registradas pelo EEG.

  • Os ERPs de curta latência (1–200 ms) refletem os primeiros estágios da seleção sensorial e da transmissão neural.

  • Eles se dividem em dois blocos principais:

    • Potenciais Evocados Auditivos de Tronco (ABR, 1–10 ms) → mostram a passagem do estímulo pelo volume conductor auditivo.

    • ERPs Corticais (P50, N100, P200, 50–200 ms) → portões sensoriais que filtram, detectam e selecionam estímulos.


2. ABR – O traçado da passagem auditiva (1–10 ms)

  • O Auditory Brainstem Response (ABR) registra ondas sucessivas (I a VII) que indicam a passagem do impulso auditivo:

    • Onda I → nervo auditivo.

    • Onda III → núcleo coclear e complexo olivar superior.

    • Onda V → colículo inferior no mesencéfalo.

  • Cada onda mostra um salto de condução elétrica dentro do volume conductor auditivo, revelando como o som atravessa barreiras anatômicas em microssegundos.

  • Esses potenciais não dependem da consciência, mas garantem a integridade da via auditiva para que a percepção possa emergir depois.


3. O P50 – primeiro filtro cortical (50 ms)

  • O P50 surge cerca de 50 ms após o estímulo.

  • Sua função é filtrar estímulos repetitivos, reduzindo a resposta a sinais redundantes.

  • Protege o cérebro de sobrecarga e mantém a eficiência energética.


4. O N100 – detector de relevância (100 ms)

  • Aparece por volta de 100 ms.

  • Reflete a detecção inicial de estímulos inesperados ou intensos.

  • Quanto mais saliente o som ou a luz, maior a amplitude do N100.

  • Exemplo: o disparo em um game de ação ou a vibração súbita do celular.


5. O P200 – seleção atencional inicial (150–200 ms)

  • Atua como um reforço para estímulos que podem ser importantes.

  • Entre dezenas de notificações, o P200 ajuda a destacar aquela que tem maior valor social ou emocional.

  • Exemplo: a notificação de mensagem pessoal entre várias de propaganda.


6. Games, redes sociais e os portões sensoriais

  • Games utilizam sons binaurais e efeitos 3D que ativam o ABR, dando a sensação de movimento espacial instantâneo.

  • Sons agudos, flashes e vibrações repetidas exploram N100 e P200, mantendo o cérebro em alerta constante.

  • Esse bombardeio pode “treinar” o cérebro a ficar em estado de hiper-reatividade, aumentando vulnerabilidade à ansiedade e à distração.


7. Quadro Transversal – O Loop de 72h (aplicado aos ERPs curtos)

Emoção explorada

Resposta ERP curta

Exemplo em games/redes sociais

Surpresa & Expectativa

ABR indica passagem rápida entre núcleos auditivos

Sons binaurais em fones, notificações súbitas

Medo & Ansiedade (FOMO)

N100 dispara em resposta a estímulos súbitos

Stories que somem, vibração inesperada

Raiva & Nojo (Indignação)

N100 amplificado por sons agressivos

Debates com sons de alerta ou derrota

Alegria & Prazer rápido

P200 reforça estímulo associado à recompensa

Sons de likes, efeitos de vitória em games

Vínculo & Pertencimento

P200 prioriza sinais sociais

Notificação de mensagem de amigo ou grupo

Resumo crítico: do ABR ao P200, os portões sensoriais e trajetórias elétricas foram feitos para filtrar, proteger e priorizar. Mas hoje são usados como atalhos para prender a atenção, explorando a vulnerabilidade bioelétrica do cérebro.


8. Conclusão crítica

Os ERPs curtos (1–200 ms) mostram que a consciência começa muito antes da reflexão.

  • O ABR registra a passagem elétrica do som por múltiplas estações, como um traçado de cabos biológicos.

  • O P50, N100 e P200 são portões que decidem o que entra ou não na mente.

Games e redes sociais aprenderam a acionar esses marcadores elétricos em sequência, manipulando desde os trajetos auditivos mais curtos até a seleção atencional cortical. O resultado é um cérebro condicionado a reagir, muitas vezes sem tempo para integrar.

Sem reconhecer esses filtros, ficamos reféns de estímulos externos, vivendo em loops emocionais superficiais e arriscando entrar em estados de Anergia ou em memórias aversivas que se fixam por pequenas diferenças no mundo real.


Referências

  • Hall, J. W. (2020). Auditory brainstem response: Clinical and research advances. Hearing Research.

  • Javitt, D. C., & Freedman, R. (2020). Sensory gating deficits in psychiatric disorders: P50 as a biomarker. Neuropsychopharmacology Reviews.

  • Näätänen, R., & Escera, C. (2021). Mismatch negativity and sensory ERP components: Insights into automatic processing. Frontiers in Neuroscience.

  • Lavoie, S., et al. (2022). N100 and P200 ERP components as markers of attentional engagement. Biological Psychology.

  • Rossion, B., (2023). ERP markers of rapid sensory selection in humans. NeuroImage.



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Jackson Cionek

New perspectives in translational control: from neurodegenerative diseases to glioblastoma | Brain States