Animais sociais e o que isso tem a ver com neurociência

30/10/2018 01:30:11 Author: Mila
Estudar o comportamento dos animais tem se mostrado uma ferramenta muito interessante para compreendermos diversos processos na natureza, inclusive a evolução. A sociobiologia (proposta por Edward Wilson na década de 1970) é uma área da biologia que estuda o comportamento social dos animais se baseando em conceitos da etologia, evolução, sociologia e genética de populações. Um aspecto muito interessante do comportamento social de animais é que ele está presente em grupos muito distintos. Na verdade, até animais completamente solitários apresentam comportamentos de interações com outros indivíduos. Nesse contexto, destaca-se o aspecto social encontrado em mamíferos, especialmente primatas, e em insetos. No caso desses últimos, vale ressaltar a chamada eusocialidade, a “socialidade verdadeira”, encontrada em abelhas, formigas (Hymenoptera) e cupins (Isoptera).

O que eles chamam de eussocialidade?


O próprio E. Wilson definiu a Eusocialidade com base no comportamento e na estrutura social de abelhas e formigas. Esses insetos, chamados de sociais ou eusociais, organizam-se de forma complexa, com presença de subcastas compondo a colônia. Contudo, a principal característica utilizada para definir a eusocialidade é a divisão do trabalho reprodutivo. Isso significa que parte dos indivíduos será fértil e parte deles não será capaz de se reproduzir. Assim, os indivíduos que não se reproduzem são responsáveis por outras tarefas importantes para as colônias, como o cuidado com a prole, a busca por alimento e a defesa/proteção da colônia. É daí que surge a divisão do trabalho das subcastas, de modo que os insetos eusociais podem ter diferentes classes de operárias, cada uma realizando uma tarefa específica para a colônia.


Quer um exemplo? Formigas cortadeiras (como as saúvas) possuem colônia de milhares a milhões de indivíduos, com uma ou várias rainhas (classe reprodutiva). A classe não-reprodutiva se divide em operárias, enfermeiras/lixeiras e soldadas. Operárias e soldadas atuam em atividades que acontecem fora do ninho, com destaque para o forrageamento (busca por alimento). Já às enfermeiras/lixeiras são atribuídas tarefas internas, como o cuidado com o jardim de fungo e as larvas. Todos esses indivíduos se organizam para gerar um comportamento coletivo da colônia, sendo esse descrito como o “comportamento altruísta da colônia”. Vários pesquisadores buscam entender como geneticamente emerge um comportamento desse tipo, já que evolutivamente é difícil entender o que poderia fazer com que esse tipo de organização fosse selecionado.

Ant nest and social nets



Mas e o comportamento social em mamíferos?


Como você deve ter percebido, o comportamento social dos insetos eusociais é bem diferente do que a gente vê na televisão associado a outros animais sociais, né?Alguns exemplos legais sobre o comportamento social de mamíferos estão abaixo:

Lobos

Predadores com distribuição ampla e com bastante contato com os seres humanos, os lobos foram os primeiros animais a sofrerem o processos de domesticação, dando origem aos cachorros.

São animais noturnos e como carnívoros, sofrem devido ao oferecimento irregular de alimento. Assim, lobos apresentam o comportamento de caça, descrito como uma forma de comportamento investigativo. A caça acontece em grupos, sendo que há poucas evidências de liderança de um único indivíduo durante toda essa tarefa (então aquela ideia do “alfa” mandando no resto do bando, não funciona exatamente assim, viu?). Por caçarem em grandes áreas, não há como proteger as fronteiras de todos os territórios, dessa forma, os lobos possuem uma certa divisão de trabalho, com diferentes indivíduos ocupando postos para proteger todo o espaço ocupado.

wolves and social behavior


Primatas


Primatas no geral ocupam regiões tropicais, com exceção dos humanos e de mais algumas espécies, o que provavelmente está relacionado a seus dedos extremamente desenvolvidos, os quais seriam mais rígidos em climas mais frios. Espécies dessa ordem estão adaptadas para os mais diversos habitats, como os babuínos, gorilas e os loris. Esse mamíferos possuem uma percepção de cores muito desenvolvida, assim como a audição. Diferente de outros grupos de mamíferos, seu olfato é relativamente pouco desenvolvido.

Outra diferença interessante entre os primatas e os demais grupos de mamíferos, é o fato de que primatas, usualmente, produzem um único filhote, que nasce relativamente imaturo. Ele exige, portanto, demasiado cuidado parental, especialmente relacionado à mãe. Isso abre uma nova gama de relações e interações sociais, as quais influenciam fortemente como o seu sistema nervoso processa esse tipo de informação.

rhesus monkey mother and child


Roedores


A vida social desses animais reflete suas habilidades como construtores e escavadores. Algumas espécies desse grupo constroem verdadeiras cidades subterrâneas onde suas populações vivem e interagem. No caso do cão da pradaria, essas cidades possuem até mesmo divisão territorial associada a disputas pelos machos, mostrando uma organização espacial e social complexa. No entanto, a maioria dos roedores tem seu comportamento social envolvendo o cuidado parental dos filhotes. As relações entre macho e fêmeas também são importantes, mas relativamente instáveis. Nas espécies de roedores menos sociais, as relações espaciais envolvem basicamente as mães e os filhotes, podendo não haver grandes questões relacionadas à territorialidade.


roedents social beavior


Okay, o que isso tem a ver com neurociência?


Uma das características que define o grupo dos mamíferos é a presença de glândulas mamárias. E outras palavras, mamíferos amamentam. E isso já é uma interação social muito importante, considerando que coloca em contato direto a mãe e o filhote, além de ser crucial para a própria sobrevivência do filhote. Já ouviu falar sobre como as interações e os estímulos são importantes para a formação do sistema nervoso de crianças? Então, esse tipo de questão também é muito importante para filhotes de outros mamíferos também.


Os encefálos de mamíferos são relativamente grandes e complexos (o que não quer dizer que mamíferos são mais evoluídos ou mais inteligens que outros animais ok?), com um alto desenvolvimento do córtex cerebral. Além disso, destaca-se nesse grupo a sua capacidade de adaptação comportamental devido a aprendizagem, sendo que grande parte dos padrões de comportamento observados nesse grupo não são hereditários, mas sim aprendidos a partir do convívio com os pais e com a observação de demais indivíduos. Os filhos aprendem pelo exemplo, sabe? Haha


Agora quer viajar um pouco mais? Os insetos eussociais são um ótimo modelo para entendermos como redes e interações funcionam. Deles podemos inferir muita coisa sobre como o nosso sistema nervoso se comporta, quando associamos as relações sociais das colônias a redes neurais! Cada formiga, cada abelha, se comporta como uma espécie de um neurônio dentro de um sistema muito conectado e complexo!


Nesse contexto todo, é muito revelador explorar através da etologia como o comportamento social e animal se revela em diferentes grupos. Assim, comparativamente, podemos entender muitos processos que também existem entre humanos, ou existem de forma equivalente. Além disso, a comparação dos sistemas pode trazer benefícios até para entendermos transtornos de comportamento. Embora, os humanos possuam estruturas sociais muito complexas e muito únicas em relação a outros grupos de animais, a comparação ainda é válida e abre portas para o estabelecimento de novas fronteiras do conhecimento.

Fontes interessantes:
https://www.accessscience.com/content/social-mammals/630750
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3638441/




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Autor:

Mila Pamplona

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