O envelhecimento no Brasil tem sido uma pauta muito importante nos últimos anos. A nossa pirâmide etária está passando por uma mudança de perfil que representa uma maior porcentagem de idosos na nossa população. Em outras palavras, o país está envelhecendo. Diante disso, tem se discutido muitas políticas públicas em relação a isso, tanto em quesitos de uma reforma previdenciária quanto até mesmo em reformas na saúde pública e investimentos em saúde preventiva.
O que se observa também, é que as atividades muito repetidas ou treinadas durante a vida sofrem um declínio menor ao longo do tempo, tendo quedas mais acentuadas somente após os 70 anos. Em outras palavras, “treinar o seu cérebro” e o seu corpo pode ajudar a ter um envelhecimento mais saudável e com mais qualidade de vida.
Não são só essas atividades bem treinadas que sofrem menos alterações. Na verdade, a memória autobiográfica e o processamento de emoções permanece quase inalterado durante toda a vida. Isso é muito interessante considerando que essas duas atividades tem um teor psicológico muito determinantes na personalidade e até mesmo na chamada “consciência” do indivíduo. Em outras palavras, o envelhecimento pode alterar muita coisa na rotina e nas capacidades do indivíduo, mas não altera quem a pessoa é.
Nosso sistema nervoso é um sistema muito dinâmico e plástico, assim passamos por mudanças na forma como ele se organiza durante toda a nossa vida. No início da vida, ele ainda não está completamente formado e é com base nos estímulos ambientais que começamos a moldar nossas principais conexões sinápticas. Na verdade, bebês e crianças tem um sistema nervoso tão dinâmico e capaz de uma quantidade tão grande de conexões que isso os torna extremamente aptos a aprendizagem das mais diversas atividades. Com o passar dos anos, ocorrem algumas “podas neuronais”, que restringem um pouco a nossa capacidade de formar essas novas conexões, reforçando as conexões que já possuímos. Por isso, aprender tarefas novas se torna cada vez mais difícil com o envelhecimento. Quer um exemplo? É muito mais fácil para uma criança aprender um novo idioma ou a tocar um instrumento do que para um adulto. Isso não quer dizer que percamos a nossa capacidade de aprender, só significa que a aprendizagem exige mais esforço e treino do que antes.
No caso do envelhecimento, o que acontece é uma reorganização sináptica associada ao declínio de importantes neurotransmissores. Assim, nossas sinapses se afrouxam e as concentrações no nosso cérebro de dopamina, noradrenalina e serotonina sofrem uma queda. Algumas áreas são mais afetadas por essa reorganização do que outras, como é o caso do córtex pré-frontal, levando a boa parte do declínio das atividades cognitivas aqui citadas.
É importante ressaltar que o envelhecimento e todas essas mudanças em nosso sistema nervoso são algo completamente NATURAL. Muita gente encara nossas alterações cognitivas como resultado direto de doenças como o Mal de Alzheimer ou de Parkinson. Na verdade, essas doenças aceleram esse processo de declínio cognitivo, uma vez que são responsáveis por acelerar a degradação de certas áreas do nosso cérebro. É muito importante ter consciência disso tanto para o exercício de uma medicina mais saudável quanto para ter um envelhecimento acompanhado de saúde mental!
Agora um pequeno desafio para os neurocientistas: todos sabemos o quanto o ambiente e o estilo de vida do indíviduo modifica o seu sistema nervoso constantemente. Nesse contexto, o ambiente familiar é muito importante, já que está associado a boa parte das nossas experiências durante a vida. Será que o declínio cognitivo acontece da mesma forma em diferentes ambientes familiares? Será que os “traumas” ou grandes eventos associados a nossa família (familiares com histórico de abuso ou relacionamentos conturbados) podem mudar como ocorre o nosso envelhecimento? Vale a pena pensar em um estudo que compare o envelhecimento em diferentes cenários ambientais!
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fonte e sugestão de leitura: Insights into the Aging mind: a view from cognitive neuroscience! de Trey Hedden e John D. E. Gabrieli