O envelhecimento no Brasil tem sido uma pauta muito importante nos últimos anos. A nossa pirâmide etária está passando por uma mudança de perfil que representa uma maior porcentagem de idosos na nossa população. Em outras palavras, o país está envelhecendo. Diante disso, tem se discutido muitas políticas públicas em relação a isso, tanto em quesitos de uma reforma previdenciária quanto até mesmo em reformas na saúde pública e investimentos em saúde preventiva.

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Extraído de https://pt-static.z-dn.net/files/d0b/cdb08ee2518f6b58520396ace1dab221.jpg



De fato, o envelhecimento tem um aspecto sociocultural muito importante: é comum as pessoas temerem a dita “melhor idade”, seja por uma questão filosófica ou religiosa associada a um “medo da morte”. De qualquer forma, ao envelhecer, o indivíduo passa por diversas mudanças de perspectiva sobre a vida, bem como passa a ter uma rotina diferente - em casos de aposentadoria.

Uma mudança tão intensa na vida e no ambiente do indivíduo tem tudo a ver com neurociência!

Nesse contexto, é importante diversificar os estudos sobre essa faixa etária a fim de elaborar políticas públicas mais eficientes para manter a qualidade de vida da população até o fim da vida. Por isso, no post de hoje vamos falar um pouco sobre o que é envelhecimento natural, como ele altera nossa atividade cognitiva e esclarecer algumas ideias sobre duas doenças muito associadas ao envelhecimento: o Mal de Parkinson (clique aqui para ver mais sobre Parkinson) e o Mal de Alzheimer (novidades aqui: post em espanhol ou post em inglês).


ESTUDOS NA ÁREA

Estudar o envelhecimento natural é uma tarefa que pode requerer muito tempo, afinal, seria necessário acompanhar o indivíduo ao longo da vida para saber como suas funções cognitivas foram se alterando ao longo das décadas. Além disso, é preciso ter atenção quanto a quais funções cognitivas estão sendo avaliadas nesses estudos, já que elas podem estar extremamente associadas e o declínio de uma pode implicar no declínio de outras.
É fato que funções motoras como a noção espacial e a velocidade sofrem alterações com o tempo, assim como a função de memória e raciocínio. O que pouca gente sabe é como se comporta o declínio dessas atividades. Embora exista uma ideia geral de que o declínio de funções cognitivas aconteça conforme o envelhecimento se acentua, na verdade, alguns estudos mostram que esse declínio acontece mais intensamente entre os 20 e os 60 anos do que após os 60. Em outras palavras, esse declínio acontece durante toda a nossa vida e não é exclusivo das últimas décadas de vida de um indíviduo.

O que se observa também, é que as atividades muito repetidas ou treinadas durante a vida sofrem um declínio menor ao longo do tempo, tendo quedas mais acentuadas somente após os 70 anos. Em outras palavras, “treinar o seu cérebro” e o seu corpo pode ajudar a ter um envelhecimento mais saudável e com mais qualidade de vida.

Não são só essas atividades bem treinadas que sofrem menos alterações. Na verdade, a memória autobiográfica e o processamento de emoções permanece quase inalterado durante toda a vida. Isso é muito interessante considerando que essas duas atividades tem um teor psicológico muito determinantes na personalidade e até mesmo na chamada “consciência” do indivíduo. Em outras palavras, o envelhecimento pode alterar muita coisa na rotina e nas capacidades do indivíduo, mas não altera quem a pessoa é.



Mas o que acontece com o nosso sistema nervoso durante o envelhecimento?

Nosso sistema nervoso é um sistema muito dinâmico e plástico, assim passamos por mudanças na forma como ele se organiza durante toda a nossa vida. No início da vida, ele ainda não está completamente formado e é com base nos estímulos ambientais que começamos a moldar nossas principais conexões sinápticas. Na verdade, bebês e crianças tem um sistema nervoso tão dinâmico e capaz de uma quantidade tão grande de conexões que isso os torna extremamente aptos a aprendizagem das mais diversas atividades. Com o passar dos anos, ocorrem algumas “podas neuronais”, que restringem um pouco a nossa capacidade de formar essas novas conexões, reforçando as conexões que já possuímos. Por isso, aprender tarefas novas se torna cada vez mais difícil com o envelhecimento. Quer um exemplo? É muito mais fácil para uma criança aprender um novo idioma ou a tocar um instrumento do que para um adulto. Isso não quer dizer que percamos a nossa capacidade de aprender, só significa que a aprendizagem exige mais esforço e treino do que antes.

No caso do envelhecimento, o que acontece é uma reorganização sináptica associada ao declínio de importantes neurotransmissores. Assim, nossas sinapses se afrouxam e as concentrações no nosso cérebro de dopamina, noradrenalina e serotonina sofrem uma queda. Algumas áreas são mais afetadas por essa reorganização do que outras, como é o caso do córtex pré-frontal, levando a boa parte do declínio das atividades cognitivas aqui citadas.


Acabando com os mitos

É importante ressaltar que o envelhecimento e todas essas mudanças em nosso sistema nervoso são algo completamente NATURAL. Muita gente encara nossas alterações cognitivas como resultado direto de doenças como o Mal de Alzheimer ou de Parkinson. Na verdade, essas doenças aceleram esse processo de declínio cognitivo, uma vez que são responsáveis por acelerar a degradação de certas áreas do nosso cérebro. É muito importante ter consciência disso tanto para o exercício de uma medicina mais saudável quanto para ter um envelhecimento acompanhado de saúde mental!

Desafio

Agora um pequeno desafio para os neurocientistas: todos sabemos o quanto o ambiente e o estilo de vida do indíviduo modifica o seu sistema nervoso constantemente. Nesse contexto, o ambiente familiar é muito importante, já que está associado a boa parte das nossas experiências durante a vida. Será que o declínio cognitivo acontece da mesma forma em diferentes ambientes familiares? Será que os “traumas” ou grandes eventos associados a nossa família (familiares com histórico de abuso ou relacionamentos conturbados) podem mudar como ocorre o nosso envelhecimento? Vale a pena pensar em um estudo que compare o envelhecimento em diferentes cenários ambientais!



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fonte e sugestão de leitura: Insights into the Aging mind: a view from cognitive neuroscience! de Trey Hedden e John D. E. Gabrieli

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Autor:

Mila Pamplona

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