Willian Barela Costa
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O resgate da ciência perdida: A ciência em primeira pessoa no estudo da consciência

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“ O que nós pensamos sobre o mundo ou sobre as pessoas determinam o que nós atualmente percebemos”

- Johannes Wagemann

    Nosso século XXI, sensos materialistas e progressistas estão incorporados / encrostados / enraizados no ato de agir e pensar. Se olharmos o reflexo de grandes manifestações cinematográficas, como “Altered Carbon”, “Transcendence”, “Ex Machina”  acerca da consciência é comum encontrarmos a extrapolação científica da consciência como objeto, um fenômeno de natureza unitária (monismo). Nesses mundos, facilmente se isola, como um material a consciência, se transfere como um disquete de dados, se perpetua uma informação imutável do “eu” de cada pessoa como se fosse um HD (uma memória de computador) .

    Parte dessa influência é ancestral e outra das recentes analogias de todo sistema lógico ou não-lógico (idem linear e não-linear) funcionam em um comparativo com as máquinas, o que chamamos da cultura do vale do silício.  Imaginar um corpo como uma máquina, sua mente como um software e nessa simplicidade comparativa se ignora o conhecimento de 3.5 bilhões anos da evolução da natureza para trazer o antropocentrismo próximo da sensação de dominar o que é a consciência.

    Mas, já parou para pensar o que é consciência?

    Cientificamente isto é um desafio !!! E recentes estudos [2-3] já mostram o quão errados estão a extrapolação materialista do “ser” nesses filmes. A consciência está mais para sistema dinâmico do que estático! Ou seja, ele não é imutável, mas sim fluído! Acontece a todo momento em diferentes estados em várias manifestações complexas de sua lógica (não-linear)

    Estudar, explorar os segredos que regem o fenômeno / a natureza da consciência é difícil! Tanto que ganhou um termo especialmente para isto na ciênca: “Hard problem of consciousness”[4].

    Porém o que tem de tão difícil assim neste fenômeno em contrapartida das outras capacidades cognitivas?

    O hard problem of consciouness reside na dificuldade de traçar relações da “qualia” (termo bonito que simploriamente podemos traduzir em um equivalente a mente, porém carrega alguns outros significados mais profundos) com a matéria, ou seja o cérebro. Sabemos que se eu arrancar pedaços do seu cérebro, sua mente (qualia) será fragilizada, ou seja, a consciência reside lá (por enquanto para efeitos explicativos, mas isto é parcialmente mentira), no entanto encontrar a explicação de como as células, os neurônios (agentes físicos) são capazes de gerar, emergir a mente (um agente abstrato), é o que os cientistas chamam de hard problem of consciouness.

    A verdade é que a ciência como conhecemos hoje, é enraizada e sustentada por dois pilares centrais: o reducionismo e a empiricidade. Todavia essas correntes de pensamentos têm falhado grotescamente em explicar fenômenos complexos da natureza, como o maior exemplo, a consciência.

    Mas vamos entender brevemente o que isso significa e como chegamos a esse sistema de pensamento, quase uma imposição imperial acerca de como pensamos para resolver, descobrir e construir o conhecimento.

    Em um resumão pulando alguns nomes importantes do processo, e os vai vens das correntes de pensamentos, podemos dizer que toda confusão começou com Platão e Aristóteles, ao separar mente e corpo. Neste sentido não existe só uma distinção lógico-física, corpo e consciência são coisas separadas, mas também a impossibilidade de se estudar fenômenos abstratos (psicológicos, por exemplo) no plano físico (do corpo).  Com o desenvolvimento da história humana, o pensamento se aperfeiçoa e chegamos a conclusão que para entendermos o universo é necessário quantificar, sem quantificação não há comprovação, não há empiricidade. É ai, como diria Galileu, que encontramos o primeiro lado negro da ciência moderna.  Extrapolação do racionalismo, do materialismo. A principal crítica é que esse método quando transferido para biologia, psicologia e sociologia, por exemplo, talvez nos cega para entender a ontologia (metafísica) desses campos, pois nos transporta em uma frenesia por querer observar, medir, medir, medir...

“ O que pode ser medido, deve ser medido, o que não pode ser medido, deve ser mensurável”

- Kleinert

    O segundo poder da ciência moderna se consagrou com Newton e Galileu, ao trazer a abordagem da fragmentação de qualquer problema em pequenas partes, em partículas, gerando assim o pensamento reducionista.

    Por um breve período tivemos o reencontro da investigação cientifica do que se pensa (qualia) do que se percebe (corpo) com o nascimento das ciências da psique com grandes nomes como Freud, Charles Darwin e Wundt. Se fossemos fazer uma abstração de toda essa história do pensamento cientifico até hoje seria algo como a figura abaixo.


Imagem extraíada de The Confluence of Perceiving and Thinking in Consciouness Phenomenology [1]


“Todas as setas explicativas apontam para baixo, das sociedades às pessoas, aos órgãos, às células, à bioquímica, à química, à física”

 - Weinberg

    Mas será mesmo que todos problemas conseguimos resolver reduzindo os sistemas?

    A verdade é que para problemas complexos precisamos de muito mais setas apontando para cima do que setas apontando para baixo.

    Neste sentido existe uma necessidade de reformular o pensamento de como montamos experimentos científicos para responder as perguntas modernas ou perguntas que nos acompanham desde o início do pensar.  

    Podemos encontrar em frentes novas de elaboração da metodologia científica, o construtivismo (sistemas complexos são um marco), os enativismo e o que focarei neste blog, a estrutura fenomenológica.

    A abordagem da estrutura fenomenológica no estudo da primeira pessoa, foca-se em reagrupar a relação interior do pensar (qualia) com o perceber (corpo). O intuito é direcionar a exploração científica ao indivíduo e as relações interiores.

“Estrutura Fenomenológica oferece uma concepção epistemológica, método para observar estados que são normalmente pré-subjetivos e pré-objetivo na gênese em curso da consciência individual. Estes estados processuais podem ser acessados tornando-se cada vez mais consciente das formas de separação e integração de ação mental que estamos constantemente realizando em nosso pensar e perceber todos os dias.”

- Johannes Wagemann

 

    Assim a estrutura fenomenológica combinada com a exploração da consciência, retém uma ciência de exploração interior, que apesar de ter uma variação de pessoa para pessoa, todas elas ajudam a entender características acerca da consciência.

    Antes de qualquer pre-conceitualização seja formada, essa ciência de primeira pessoa na consciência, está longe de querer se tornar alguma espécie de pseudo-coach que estudou “N” anos e criou um novo método que ninguém sabe.  Existe uma necessidade pelo rigor científico e os verdadeiros efeitos.

    Sabe-se que é possível perceber diferentes formas de processos mentais do pensar que simplesmente pela exposição externa, a randomização de eventos cegos não é capaz de despertar percepções da consciência humana. Neste sentido é necessário um guia metodológico de introspecção do reconhecimento de si próprio e é aí renasce a ciência em primeira pessoa no estudo da consciência[1].

    Digo renascer por que isto já foi o foco na época de Espinosa e Damasio. Esta exploração do perceber o interior leva a uma abrangência do sentir e como a consciência está ancorada em múltiplos sentimentos para encontrar o seu equilíbrio.  Quando entramos nesse assunto na primeira tentativa de formalizar isso neurocientificamente foi denominadas domínios dos sentimentos: sensações básicas (fome, sede, calor), sentimentos emocionais (alegria, tristeza, medo), sentimentos cognitivos (crenças sobre um determinado conhecimento) e sentimentos perceptivos (modalidades sensoriais: som na audição, cor na visão, odor no olfato e etc). Anteriormente para Espinosa as redes de sentimentos para emoções constavam mais de 60 estados mentais como no exemplo da imagem abaixo. Segundo Max Velmans, e esse número atualmente subiu para 1000 estados estados mentais (descrito no livro Understanding Consciousness, 2900, Routledge).

Imagem extraíada de Monismo de Triplo Aspecto[4]


    A percepção e o domínio da atenção empodera o ser na investigação de si e seu universo regente. Para isso novas ferramentas cognitivas, estruturadas no método introspectivo reabrem novamente este campo da metodologia científica.

sasasas




    O campo possuí técnicas interessantes que não se resumem em apenas formas de meditação para acessar a atenção plena em respiração e o pensar em relação ao ambiente [6].

A busca é expandir a consciência, descobrir-se que na introspecção temos diferentes estados da consciência, diferentes formas de seus “eu”s  acordados. Entender como semânticas podem ser bem utilizadas para ativar padrões neurais. Uma relação interessante sobre estados da consciência e corpo, é a figura abaixo feita por Wilfried Belshner o que chamou de “Topografia dos estados da consciência”.





Codições acima se referem ao sentir do corpo e abaixo possíveis análogos da experienciação da consciência. Imagem extraíada de Meditation – research as development[6]

    Espera-se que a investigação clareie não só aspectos da consciência, mas que sirva como ferramenta de utilidade cognitiva, uma vez que sua percepção da realidade pode ser alterada drasticamente, abandonando a lógica binária 0 e 1 e entendendo que o “ou” pode estar nessa equação quando se trada do funcionamento da mente:

É possível observar um pato ou coelho. A imagem é uma ilusão de ótica perceptiva que podem coexistir uma vez que acessa a consciência dos seus dois planos de realidade na mesma imagem. Imagem extraíada de The Confluence of Perceiving and Thinking in Consciouness Phenomenology [1]

"... a Natureza (ou totalidade do real) se constitui de três aspectos potenciais: a matéria/energia, a forma/informação e o sentimento/consciência. Estes três aspectos se atualizam progressivamente: inicialmente, em elementos de matéria/energia no espaço-tempo; quando há transmissão de formas entre sistemas materiais, emerge a informação, e quando a informação afeta a estrutura material de um sistema, emerge o sentimento. "

- Alfredo Pereira Júnior

    Este método introspectivo que remete a escola “estruturalista” de Wundt é novamente assunto recorrente e será tema para uma edição de uma famosa revista científica Elsevier: First-Person Science of Consciousness. Theories, Methods, Applications.

Referências:     

[1] The Confluence of Perceiving and Thinking in Consciouness Phenomenology; Johannas Wagemann; Frontiers in Psychology; 2018.

[2] Consciouness: here, there and everywhere ?; Giulio Tononi and Christof Koch; Philosophical Transactions; 2016.

[3] Keisuke Suzuki, Anil K. Seth et al , A Deep-Dream Virtual Reality Platform for Studying Altered Perceptual Phenomenology, Keisuke Suzuki, Anil K. Seth et al, Nature Scientific Reports, 2017.

[4] Monismo de Triplo Aspecto; Pereira Junior, Alfredo; UNESP; 10.13140/RG.2.1.4157.2729;2016.

[5] The Structure-Phenomenological Concepto f Brain-Consciouness Correlation; Johannas Wagemann; Mind & Matter; 2011.

[6] Meditation – research as development; Johannes Wagemann; RoSE; 2011.

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Jackson Cionek

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